Um povo que quer e sabe vencer


Desde há algum tempo que andava apreensivo com a forma de agir de alguns políticos que consideram o povo como uma turba sem nome, anónima de tudo, até de inteligência. Considerei várias vezes a justiça infinita com que esse mesmo povo, que afinal somos todos nós, actua, quando a situação o exige.
O povo de que faço parte, essa grandiosa massa anónima, o meu povo português, teve e tem manifestações colectivas absolutamente inexequíveis em outros povos ou em outros países europeus.
O meu povo sabe agir em uníssono, protestar, transformar, lutar, colectivizar-se em força e solidariedade, defender-se do mal e sofrer em conjunto.
Quem não se lembra desse grandioso movimento de solidariedade para com Timor, quando a pata do ditador indonésio exterminava sem escrúpulo os nossos irmãos do pacífico? Quem não protestou e lutou contra essa maldade sem qualificação possível? Que não estendeu um lençol branco na sua varanda ou na sua janela? Todos. Todos os portugueses agiram num infinito protesto branco.
E mais recentemente, quem não se vestiu com as cores nacionais ou não colocou em lugar destacado da sua casa a nossa bandeira em apoio da selecção portuguesa de futebol que disputou o último campeonato da Europa?
Estes dois exemplos de mobilização colectiva do povo português servem apenas para ilustrar um dos fenómenos mais interessantes da nossa acção comum, onde os lideres não existem, não actuam e deixam de fazer sentido, e o povo parece comportar-se como uma entidade una e com objectivos bem definidos.
As últimas eleições legislativas, testemunham, também, esta peculiaridade sentimental de estar na vida, onde emerge uma espécie de reflexão comum que depois se materializa de forma autónoma e simples, por intuição natural, fazendo convergir os habitantes de Portugal num sentido de justeza, facto que constitui uma admirável qualidade da nossa alma e do nosso ser.
O povo português demonstra ter um apurado sentido de responsabilidade, e ao contrário do que muitos pensam, sabe ser vigilante.
Ninguém tem dúvidas que o PSD de Santana Lopes foi o pior PSD da história da democracia portuguesa. Um partido amputado do sentido de responsabilidade, sem quadros, sem credibilidade, sem força anímica. O povo soube ver isso. Sentiu-o, apesar das falsas imagens e dos discursos construídos a partir das técnicas de marketing importadas dos EUA. E porque o viu e sentiu, atempadamente soube mobilizar-se e mais uma vez pôs cobro à situação.
Com uma direita fortemente desgastada pelas acções dos seus principais líderes, os votos habitualmente depositados no PSD e no CDS/PP, transferiram-se em massa para uma esquerda que surge na actualidade e no nosso país cada vez mais moderna, com um sentido de futuro, aberta à tolerância e à inovação, com uma mentalidade mais socializante e com um maior respeito pelos princípios democráticos e pela vontade e liberdade do ser humano.
O povo português trocou um modelo esgotado que se encaminhava para uma moral assente em deus, na pátria e na família, por um modelo de tolerância mais aberto, mentalmente mais evoluído e politicamente mais liberal.
A grande lição que a direita portuguesa tem a tirar do Governo de Santana Lopes e Paulo Portas é a de que os portugueses não gostam de extremismos e hipocrisias, e que quando o logro e a mentira brotam descaradamente no exercício do poder em acções semi-ditatoriais, podemos contar com a força e a vontade popular para solucionar a dificuldade.
Portugal estava-se a tornar num país governado por uma direita provinciana, fazendo lembrar tempos idos há algumas décadas. Ora, foi este arcaísmo ideológico, associado à incompetência e incapacidade de governar de Santana Lopes, que permitiu a histórica vitória do PS e da esquerda em geral nas eleições realizadas no passado dia 20 de Fevereiro.
A vitória da esquerda constituiu mais um daqueles “movimentos de acção colectiva” que só no seio do povo português é possível presenciar. Por isso, que se cuide o PS e toda a esquerda portuguesa, porque quem dá, como aliás já se provou por várias vezes, também sabe e é capaz tirar!
Na verdade, perante o descalabro que Portugal atravessava, os portugueses optaram por dar um cheque em branco a José Sócrates. Num exercício de desespero causado pela deterioração da estrutura económica e social do país, os eleitores mobilizaram-se em massa e optaram, nestas eleições, por uma outra via, gerando assim as condições de estabilidade que lhe foram pedidas. Deu-se estabilidade política aos políticos para governarem, a partir de agora exige-se estabilidade económica e social para que o povo possa ser feliz.
Não sabemos como José Sócrates desempenhará o seu papel de Primeiro-Ministro, quais as medidas e quais as reformas que o líder socialista no futuro irá concretizar. E não sabemos porque Sócrates também nunca o disse. Sabemos apenas que foi um bom ministro do ambiente do famigerado governo de Guterres e que nos propõe um “Choque Tecnológico”.
Sabemos ainda que o povo português depositou nele toda a esperança que um ser humano pode ter e que dele espera o que o PSD e a direita não conseguem ou não sabem dar a Portugal.
Os desafios colocados à maioria absoluta do PS são agora de maior grandeza. A responsabilidade é redobrada e as expectativas são monumentais.
Ao povo resta aguardar que de uma vez por todas se comece a construir o futuro, podendo-se esperar desde já, e como sempre, com a sua iniciativa, com o seu trabalho e com a sua entrega, sem mais adiamentos, sem mais desculpas e sem mais pessimismos.
Portugal merece um bom Governo, porque o seu povo é um dos povos que mais habitualmente tem demonstrado a sua maturidade democrática, que mais habitualmente tem demonstrado que sabe esperar, que sabe agir, que sabe acreditar, que acreditou… e que há-de vencer!Luis Pereira[26-02-2005]
O povo de que faço parte, essa grandiosa massa anónima, o meu povo português, teve e tem manifestações colectivas absolutamente inexequíveis em outros povos ou em outros países europeus.
O meu povo sabe agir em uníssono, protestar, transformar, lutar, colectivizar-se em força e solidariedade, defender-se do mal e sofrer em conjunto.
Quem não se lembra desse grandioso movimento de solidariedade para com Timor, quando a pata do ditador indonésio exterminava sem escrúpulo os nossos irmãos do pacífico? Quem não protestou e lutou contra essa maldade sem qualificação possível? Que não estendeu um lençol branco na sua varanda ou na sua janela? Todos. Todos os portugueses agiram num infinito protesto branco.
E mais recentemente, quem não se vestiu com as cores nacionais ou não colocou em lugar destacado da sua casa a nossa bandeira em apoio da selecção portuguesa de futebol que disputou o último campeonato da Europa?
Estes dois exemplos de mobilização colectiva do povo português servem apenas para ilustrar um dos fenómenos mais interessantes da nossa acção comum, onde os lideres não existem, não actuam e deixam de fazer sentido, e o povo parece comportar-se como uma entidade una e com objectivos bem definidos.
As últimas eleições legislativas, testemunham, também, esta peculiaridade sentimental de estar na vida, onde emerge uma espécie de reflexão comum que depois se materializa de forma autónoma e simples, por intuição natural, fazendo convergir os habitantes de Portugal num sentido de justeza, facto que constitui uma admirável qualidade da nossa alma e do nosso ser.
O povo português demonstra ter um apurado sentido de responsabilidade, e ao contrário do que muitos pensam, sabe ser vigilante.
Ninguém tem dúvidas que o PSD de Santana Lopes foi o pior PSD da história da democracia portuguesa. Um partido amputado do sentido de responsabilidade, sem quadros, sem credibilidade, sem força anímica. O povo soube ver isso. Sentiu-o, apesar das falsas imagens e dos discursos construídos a partir das técnicas de marketing importadas dos EUA. E porque o viu e sentiu, atempadamente soube mobilizar-se e mais uma vez pôs cobro à situação.
Com uma direita fortemente desgastada pelas acções dos seus principais líderes, os votos habitualmente depositados no PSD e no CDS/PP, transferiram-se em massa para uma esquerda que surge na actualidade e no nosso país cada vez mais moderna, com um sentido de futuro, aberta à tolerância e à inovação, com uma mentalidade mais socializante e com um maior respeito pelos princípios democráticos e pela vontade e liberdade do ser humano.
O povo português trocou um modelo esgotado que se encaminhava para uma moral assente em deus, na pátria e na família, por um modelo de tolerância mais aberto, mentalmente mais evoluído e politicamente mais liberal.
A grande lição que a direita portuguesa tem a tirar do Governo de Santana Lopes e Paulo Portas é a de que os portugueses não gostam de extremismos e hipocrisias, e que quando o logro e a mentira brotam descaradamente no exercício do poder em acções semi-ditatoriais, podemos contar com a força e a vontade popular para solucionar a dificuldade.
Portugal estava-se a tornar num país governado por uma direita provinciana, fazendo lembrar tempos idos há algumas décadas. Ora, foi este arcaísmo ideológico, associado à incompetência e incapacidade de governar de Santana Lopes, que permitiu a histórica vitória do PS e da esquerda em geral nas eleições realizadas no passado dia 20 de Fevereiro.
A vitória da esquerda constituiu mais um daqueles “movimentos de acção colectiva” que só no seio do povo português é possível presenciar. Por isso, que se cuide o PS e toda a esquerda portuguesa, porque quem dá, como aliás já se provou por várias vezes, também sabe e é capaz tirar!
Na verdade, perante o descalabro que Portugal atravessava, os portugueses optaram por dar um cheque em branco a José Sócrates. Num exercício de desespero causado pela deterioração da estrutura económica e social do país, os eleitores mobilizaram-se em massa e optaram, nestas eleições, por uma outra via, gerando assim as condições de estabilidade que lhe foram pedidas. Deu-se estabilidade política aos políticos para governarem, a partir de agora exige-se estabilidade económica e social para que o povo possa ser feliz.
Não sabemos como José Sócrates desempenhará o seu papel de Primeiro-Ministro, quais as medidas e quais as reformas que o líder socialista no futuro irá concretizar. E não sabemos porque Sócrates também nunca o disse. Sabemos apenas que foi um bom ministro do ambiente do famigerado governo de Guterres e que nos propõe um “Choque Tecnológico”.
Sabemos ainda que o povo português depositou nele toda a esperança que um ser humano pode ter e que dele espera o que o PSD e a direita não conseguem ou não sabem dar a Portugal.
Os desafios colocados à maioria absoluta do PS são agora de maior grandeza. A responsabilidade é redobrada e as expectativas são monumentais.
Ao povo resta aguardar que de uma vez por todas se comece a construir o futuro, podendo-se esperar desde já, e como sempre, com a sua iniciativa, com o seu trabalho e com a sua entrega, sem mais adiamentos, sem mais desculpas e sem mais pessimismos.
Portugal merece um bom Governo, porque o seu povo é um dos povos que mais habitualmente tem demonstrado a sua maturidade democrática, que mais habitualmente tem demonstrado que sabe esperar, que sabe agir, que sabe acreditar, que acreditou… e que há-de vencer!














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