| Jornal online - Registo ERC nº 125301



Um país "às direitas"
Publicado quinta-feira, março 02, 2006 | Por: Notícias do Nordeste

Assumi uma esperança quando aqui escrevi que José Sócrates poderia ser uma esperança.

Sei que não o disse peremptoriamente assim, como agora o estou a dizer, mas, confesso, houve uma altura em que acreditei em Sócrates.

Depois do malogrado governo de Santana Lopes, que empurrava o país para um fatídico desfiladeiro, Sócrates surgiu como a solução com uma certa credibilidade; surgiu como um turvado sebastianismo, a quem a trágica compleição da alma portuguesa se agarrou como naufrago.

Passado que está algum tempo, Sócrates revelou-se um embuste; o PS revelou-se, desgraçadamente, um partido de direita e a esperança esvaiu-se para talvez nunca mais retornar.

Sou um homem de esquerda. Assumo-me positivamente de esquerda, tenho orgulho na história da esquerda e quero morrer à esquerda. Os meus valores são valores de partilha, são valores de solidariedade, de justiça, de liberdade, de fraternidade, de igualdade, de democracia e coroou-me, sempre que posso, com uma certa utopia, a fausta dose que me alimenta a fé no homem e na mulher. Acredito neste país derruído e triste, neste país que a “democracia” calca rude e severamente e onde agora chegou Sócrates com pozinhos de falso mágico.

Mas esgotei a paciência para com os caprichos dos "venais" , como quando cantava Zeca em denúncia dos "eunucos" de um pardo ou cinzento país. Esse país de Zeca é cada vez mais o país de hoje, o país onde habito e trabalho, o país onde crescem minhas filhas. Nada mudou, ou muito pouco mudou, e lamento, sinceramente lamento, que os versos de Zeca Afonso continuem tão actuais.

Portugal é isto: um país eternamente metafórico e subsidiário de um estúpido destino a que chamam fado, onde se anunciam choques tecnológicos e onde, comparadamente com os restantes parceiros europeus, se paga mais inflacionariamente uma simples ligação à Internet; Portugal é esta soberba de desencanto onde a riqueza assume uma disparidade de atroz redistribuição; Portugal é o recordista do que não deve ser; o país secular em nada fazer, ou do pouco que se faz.

De entre este entulho de história e das não menos interessantes estórias, emerge um mago de dedo em riste, com discurso decorado de frases feitas a anunciar coisas de nada ou de pouquíssima monta.

Portugal não precisa de falsas reformas, ou de manifestações da vontade de as fazer. Portugal precisa de ser reformado, revisto, travestido, diluído e recuperado.

Portugal precisa de um verdadeiro partido de esquerda, de um partido que acredite nos conceitos da revolução pacífica e social e se desligue da subjugação aos interesses de um capitalismo cada vez mais ultra-liberal, se deligue dos interesses de castas; Portugal precisa de liquidar reformadamente os privilegiados de feição terceiro-mundista.

O embuste de Sócrates reside num apego economicista que o radica numa ala de ideologia à direita, onde a falsa matemática o empurra para uma tentação anti-humanista e contrária aos valores da esquerda.

Sócrates não é um homem de esquerda, o PS deixou de o ser, e o país mergulhou definitivamente num sistema político de unilateralidade.

No início do séc. XXI existe uma verdade incontestável: a direita voltou a imperar em Portugal…e eu quase tenho medo de publicar este texto.
Luis Pereira [02-03-2006]

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