Os predadores e os outros


O mundo é dos medíocres. Num genial artigo publicado há duas semanas atrás no Semanário Expresso, Clara Ferreira Alves dizia isso mesmo. E dizia-o com o elegante dizer que só os grandes escritores, como a Clara Ferreira Alves, conseguem fazer.
A articulista do Expresso desnudou de forma hilariante a “mediocracia” instalada neste canteiro de beira-mar já sem flores, nem cores nem cheiros. A esses, aos medíocres, a escritora abriu-lhes as entranhas do ser, examinou-lhes a essência da sua psicologia e serviu o resultado dessas observações aos seus leitores, num gesto grande e simpático modelado em forma gráfica.
Não é que ainda não tivéssemos sentido o que Clara Ferreira Alves sentiu ou sente quando fala da escuridão que avassala este país, o que não conseguimos foi expressá-lo de forma tão clara e real como a jornalista do Expresso o conseguiu fazer.
Diz a escritora que aqui (neste país) “pulula e prolifera uma raça que não deixa os outros medrar. É uma raça assustada, espécimes em constante vigilância e assustados com a prevaricação, temendo que forças superiores e desconhecidas os arrastem dos postos e os corram pelas ruas como cadáveres inimigos. Duma revolução”. Nada melhor observado. Nada mais tristemente real.
Uma raça, diz Clara Ferreira Alves. Mas, afinal, quem é essa raça?
A escritora descreve-a, disseca-a e aponta-a objectivamente, com todos os pormenores e com todos os tiques que definem a espécie.
Essa raça compõe-se pelos mais infelizes, pelos menos livres, pelos mais dependentes da bajulação, pelos hipócritas, pelos serviçais, pelos servidos, pelos lambe botas, enfim, numa palavra, pelos sofríveis. Sim, por esses mesmos Clara, por todos aqueles medíocres que se proclamam de “reformistas por natureza, partidários do pequeno remendo, da pequena, da pequeníssima medida, e da simpatia calçada como uma luva”.
Mas estes espécimes, como lhes chama Clara, vivem numa constante angústia, apesar de opulentamente exaurirem o que podem e o que não podem dos bolsos institucionais. E vendem trampa que tresanda, porque sabem insinuar-se entre os iguais. E de uma forma pedante alimentam-se e engordam no dia-a-dia, distribuindo hoje um abraço a quem lhes põe o prato recheado, para amanhã darem um valente coice a quem o prato cheio lhe pôs.
Geralmente o medíocre é um gabarola, perde mais tempo a arranjar argumentos para disfarçar a sua mediocridade do que a dotar-se de instrumentos de instrução e aprendizagem para a ultrapassar. O medíocre é por esse motivo um predador especializado. Um vigilante de olho posto num único móbil e que ataca quando menos se espera.
O grande desespero dos medíocres é a sua própria existência e o medo constante de que “o seu pequeno mundo se fine e seja substituído. Vivem no terror, o que os torna particularmente perigosos por causa do instinto da sobrevivência”. E, por isso mesmo, estão dispostos a tudo!, avisa-nos claramente a escritora e colunista do Expresso.
Há que ter ainda um cuidado redobrado para com os que, de entre todos, se enfileiram como os mais puros dessa raça, porque “ a conspiração dos néscios nada é comparada com a conspiração dos medíocres, sempre em bicos de pés e mãos serviçais, irradiando simpatia e falsidade e tratando da vidinha”.
Clara Ferreira Alves, nesse seu texto, fala-nos de um mundo real, lamentavelmente real, mas sobretudo de um ambiente cosmopolita onde a escritora vive e que, apesar de tudo, sempre é muito mais aberto e dinâmico do que o ambiente vivido nesta terra ( região) de reis, reizinhos, pajens, serviçais sem escrúpulos e bobos com um só olho. Clara Ferreira Alves fala-nos de um país sentido quase moribundo, fala-nos de um pais embrulhado em negro onde a cor verdadeira é apenas uma esperada esperança. Mas ao falar desse país tem como modelo de observação os exemplares da capital.
Imagine-se agora se Clara vivesse nesta terra e tivesse a oportunidade de escrever sobre outros cevados medíocres, sobre aqueles que como a erva daninha também por cá vão medrando e puindo com o tom de bolorento breu as misérias deste Nordeste.
A articulista do Expresso desnudou de forma hilariante a “mediocracia” instalada neste canteiro de beira-mar já sem flores, nem cores nem cheiros. A esses, aos medíocres, a escritora abriu-lhes as entranhas do ser, examinou-lhes a essência da sua psicologia e serviu o resultado dessas observações aos seus leitores, num gesto grande e simpático modelado em forma gráfica.
Não é que ainda não tivéssemos sentido o que Clara Ferreira Alves sentiu ou sente quando fala da escuridão que avassala este país, o que não conseguimos foi expressá-lo de forma tão clara e real como a jornalista do Expresso o conseguiu fazer.
Diz a escritora que aqui (neste país) “pulula e prolifera uma raça que não deixa os outros medrar. É uma raça assustada, espécimes em constante vigilância e assustados com a prevaricação, temendo que forças superiores e desconhecidas os arrastem dos postos e os corram pelas ruas como cadáveres inimigos. Duma revolução”. Nada melhor observado. Nada mais tristemente real.
Uma raça, diz Clara Ferreira Alves. Mas, afinal, quem é essa raça?
A escritora descreve-a, disseca-a e aponta-a objectivamente, com todos os pormenores e com todos os tiques que definem a espécie.
Essa raça compõe-se pelos mais infelizes, pelos menos livres, pelos mais dependentes da bajulação, pelos hipócritas, pelos serviçais, pelos servidos, pelos lambe botas, enfim, numa palavra, pelos sofríveis. Sim, por esses mesmos Clara, por todos aqueles medíocres que se proclamam de “reformistas por natureza, partidários do pequeno remendo, da pequena, da pequeníssima medida, e da simpatia calçada como uma luva”.
Mas estes espécimes, como lhes chama Clara, vivem numa constante angústia, apesar de opulentamente exaurirem o que podem e o que não podem dos bolsos institucionais. E vendem trampa que tresanda, porque sabem insinuar-se entre os iguais. E de uma forma pedante alimentam-se e engordam no dia-a-dia, distribuindo hoje um abraço a quem lhes põe o prato recheado, para amanhã darem um valente coice a quem o prato cheio lhe pôs.
Geralmente o medíocre é um gabarola, perde mais tempo a arranjar argumentos para disfarçar a sua mediocridade do que a dotar-se de instrumentos de instrução e aprendizagem para a ultrapassar. O medíocre é por esse motivo um predador especializado. Um vigilante de olho posto num único móbil e que ataca quando menos se espera.
O grande desespero dos medíocres é a sua própria existência e o medo constante de que “o seu pequeno mundo se fine e seja substituído. Vivem no terror, o que os torna particularmente perigosos por causa do instinto da sobrevivência”. E, por isso mesmo, estão dispostos a tudo!, avisa-nos claramente a escritora e colunista do Expresso.
Há que ter ainda um cuidado redobrado para com os que, de entre todos, se enfileiram como os mais puros dessa raça, porque “ a conspiração dos néscios nada é comparada com a conspiração dos medíocres, sempre em bicos de pés e mãos serviçais, irradiando simpatia e falsidade e tratando da vidinha”.
Clara Ferreira Alves, nesse seu texto, fala-nos de um mundo real, lamentavelmente real, mas sobretudo de um ambiente cosmopolita onde a escritora vive e que, apesar de tudo, sempre é muito mais aberto e dinâmico do que o ambiente vivido nesta terra ( região) de reis, reizinhos, pajens, serviçais sem escrúpulos e bobos com um só olho. Clara Ferreira Alves fala-nos de um país sentido quase moribundo, fala-nos de um pais embrulhado em negro onde a cor verdadeira é apenas uma esperada esperança. Mas ao falar desse país tem como modelo de observação os exemplares da capital.
Imagine-se agora se Clara vivesse nesta terra e tivesse a oportunidade de escrever sobre outros cevados medíocres, sobre aqueles que como a erva daninha também por cá vão medrando e puindo com o tom de bolorento breu as misérias deste Nordeste.














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