Ai, eu estou quase morto no deserto… e Lisboa aqui tão perto


Aqueles que sonham são mais propensos à esperança, ou a lucubrações pictóricas preenchidas com sinónimos prenhes de boas alegorias. Mas há dias em que lucidez lhes barre o consciente e lhes coloca arestas nos círculos imaginários. Assim me aconteceu, ou assim me acontece frequentemente.
Depois de um optimista e sonhado regresso à terra que me gerou, percebi, com algum desalento, que o futuro em Trás-os-Montes é pouco atractivo, que a sociedade transmontana é feita de preconceitos, que as castas ou laias anódinas granjeiam um infrutífero poder e que a região teima em embrulhar-se “numa manta rota, negra e piolhosa”.
Por causa desta pobreza, que para mim é uma realidade com um sólido gigantismo, dei-me um dia destes a discutir a região com um velho amigo meu. Há dias em que me dou a certos desvarios, como esse de discutir a região.
A determinada altura da disputa verbal com o meu amigo, a conversa descambou para as elites culturais indígenas e para a discussão sobre o seu contributo num processo de transformação do enclausurado “status quo” regional.
Depois de muita “pedra partida”, de algumas argumentações válidas, de uma análise consciente e de algumas vociferações menos pensadas, chegamos a uma conclusão pouco brilhante, por ser também uma constatação demasiadamente facilitada pela realidade do dia-a-dia.
Efectivamente, para lá de assentarmos na verdade da não existência de uma elite cultural capaz de promover a discussão sobre o “estado da terra” e de fomentar um “lobbie” ideológico susceptível de granjear reconhecimento público para promover com a sua influência uma transformação realista e justa, concluímos que essa discussão está entregue a um grupo de pessoas que fundam e solidificam a sua intervenção social, cívica e política num partido.
Todos os que intervêm nesta terra a nível político fazem-no por intermédio de um partido, e esse tem sido o fundamento do grande desarranjo de Trás-os-Montes.
Um partido político, como muito bem se sabe, não vê a região como uma unidade geográfica organicamente autónoma, com carências específicas e condicionalismos económicos, sociais e culturais particulares. Um partido político, e muito particularmente os seus mais representativos militantes, vê a sua região por intermédio de um olhar alógeno; geralmente a partir do “nobre pensamento” das castas dirigentes que vivem na macrocéfala capital, ou então que vivem em outros oásis similares e que de lá espreitam pelo canudo opticamente desacertado este deserto artrítico em que neste momento e a esta hora se está a transformar Trás-os-Montes e de uma forma geral todo o interior deste pequenino país.
Por outro lado, e infelizmente, os políticos locais e regionais têm um único objectivo que é o seu carreirismo político individual frequentemente ancorado na cega obediência à hierarquia partidária, porque também é aí que reside a fundamentação do seu poder, cujos benefícios depois vão partilhando como migalhas com as “claques de apoio” que frequentam as sedes e cerceiam a “luz” numa terra cada vez mais pincelada com acinzentado silêncio.
Um partido, é por isso, e pelo que eu tenho constatado, uma massa acrítica e seguidista de um líder mais ou menos carismático que se for necessário esmaga uma região em nome do défice público, do seu interesse pessoal ou de uma qualquer outra sordidez.
Neste estado com 33 anos de democracia existe um único sacrificado no processo referendário da representatividade popular.
Ora, esse sacrificado, é bom que se diga, tem um nome: chama-se interior!
Se os “algozes” do interior, que frequentemente habitam no litoral, afirmarem ou mesmo argumentarem que uma reforma é boa para os provincianos, logo todos os provincianos ligados ao partido do poder se põem a acenar que sim com a cabeça, sem que essa ideia de reforma seja criticamente discutida ou até rejeitada pela sua estrutura partidária local e regional.
Chegamos por isso à conclusão, eu e o meu amigo, que a ausência de dinâmicas críticas, dentro e fora dos partidos, é a razão charneira do estado a que chegou Trás-os-Montes: uma região que perdeu em média 13 habitantes por dia entre 1950 e 2001. E estes números não têm em conta os censos dos últimos seis anos.
Se descontarmos os 48 anos do processo de despovoamento e de atrofiamento socio/económico e cultural da região, atribuível à responsabilidade dos fascistas portugueses, resta-nos 33 anos de responsabilidade política atribuível aos governos democráticos do PS e do PSD.
Quer isto dizer que o processo revolucionário que alterou o regime da nação há 33 anos em nada se repercutiu neste rincão de terra que se estende para cá do Marão. A mentalidade não se alterou, a sociedade continuou fechada e o desenvolvimento económico "vê-se por um canudo" .
Mas se há responsabilidades políticas na situação a que chegou Trás-os-Montes, é também justo que se diga que este atraso estrutural se deve em muito aos nativos, aos tão famosos transmontanos que parecem ter mergulhado num letárgico existir, numa espécie de sonolência imprópria ao homem que gosta de se transformar.
Depois de um optimista e sonhado regresso à terra que me gerou, percebi, com algum desalento, que o futuro em Trás-os-Montes é pouco atractivo, que a sociedade transmontana é feita de preconceitos, que as castas ou laias anódinas granjeiam um infrutífero poder e que a região teima em embrulhar-se “numa manta rota, negra e piolhosa”.
Por causa desta pobreza, que para mim é uma realidade com um sólido gigantismo, dei-me um dia destes a discutir a região com um velho amigo meu. Há dias em que me dou a certos desvarios, como esse de discutir a região.
A determinada altura da disputa verbal com o meu amigo, a conversa descambou para as elites culturais indígenas e para a discussão sobre o seu contributo num processo de transformação do enclausurado “status quo” regional.
Depois de muita “pedra partida”, de algumas argumentações válidas, de uma análise consciente e de algumas vociferações menos pensadas, chegamos a uma conclusão pouco brilhante, por ser também uma constatação demasiadamente facilitada pela realidade do dia-a-dia.
Efectivamente, para lá de assentarmos na verdade da não existência de uma elite cultural capaz de promover a discussão sobre o “estado da terra” e de fomentar um “lobbie” ideológico susceptível de granjear reconhecimento público para promover com a sua influência uma transformação realista e justa, concluímos que essa discussão está entregue a um grupo de pessoas que fundam e solidificam a sua intervenção social, cívica e política num partido.
Todos os que intervêm nesta terra a nível político fazem-no por intermédio de um partido, e esse tem sido o fundamento do grande desarranjo de Trás-os-Montes.
Um partido político, como muito bem se sabe, não vê a região como uma unidade geográfica organicamente autónoma, com carências específicas e condicionalismos económicos, sociais e culturais particulares. Um partido político, e muito particularmente os seus mais representativos militantes, vê a sua região por intermédio de um olhar alógeno; geralmente a partir do “nobre pensamento” das castas dirigentes que vivem na macrocéfala capital, ou então que vivem em outros oásis similares e que de lá espreitam pelo canudo opticamente desacertado este deserto artrítico em que neste momento e a esta hora se está a transformar Trás-os-Montes e de uma forma geral todo o interior deste pequenino país.
Por outro lado, e infelizmente, os políticos locais e regionais têm um único objectivo que é o seu carreirismo político individual frequentemente ancorado na cega obediência à hierarquia partidária, porque também é aí que reside a fundamentação do seu poder, cujos benefícios depois vão partilhando como migalhas com as “claques de apoio” que frequentam as sedes e cerceiam a “luz” numa terra cada vez mais pincelada com acinzentado silêncio.
Um partido, é por isso, e pelo que eu tenho constatado, uma massa acrítica e seguidista de um líder mais ou menos carismático que se for necessário esmaga uma região em nome do défice público, do seu interesse pessoal ou de uma qualquer outra sordidez.
Neste estado com 33 anos de democracia existe um único sacrificado no processo referendário da representatividade popular.
Ora, esse sacrificado, é bom que se diga, tem um nome: chama-se interior!
Se os “algozes” do interior, que frequentemente habitam no litoral, afirmarem ou mesmo argumentarem que uma reforma é boa para os provincianos, logo todos os provincianos ligados ao partido do poder se põem a acenar que sim com a cabeça, sem que essa ideia de reforma seja criticamente discutida ou até rejeitada pela sua estrutura partidária local e regional.
Chegamos por isso à conclusão, eu e o meu amigo, que a ausência de dinâmicas críticas, dentro e fora dos partidos, é a razão charneira do estado a que chegou Trás-os-Montes: uma região que perdeu em média 13 habitantes por dia entre 1950 e 2001. E estes números não têm em conta os censos dos últimos seis anos.
Se descontarmos os 48 anos do processo de despovoamento e de atrofiamento socio/económico e cultural da região, atribuível à responsabilidade dos fascistas portugueses, resta-nos 33 anos de responsabilidade política atribuível aos governos democráticos do PS e do PSD.
Quer isto dizer que o processo revolucionário que alterou o regime da nação há 33 anos em nada se repercutiu neste rincão de terra que se estende para cá do Marão. A mentalidade não se alterou, a sociedade continuou fechada e o desenvolvimento económico "vê-se por um canudo" .
Mas se há responsabilidades políticas na situação a que chegou Trás-os-Montes, é também justo que se diga que este atraso estrutural se deve em muito aos nativos, aos tão famosos transmontanos que parecem ter mergulhado num letárgico existir, numa espécie de sonolência imprópria ao homem que gosta de se transformar.














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